O mês de Abril foi um mês complicado... A recuperação após o aborto complicada principalmente a nível psicológico. Mas como se costuma dizer o tempo cura tudo.... E depois o Gui também me dava uma força extra para seguir em frente. Pelo menos a minha avó materna recuperou bem do AVC, teve alta e voltou para casa. Nesse aspecto pude respirar de alívio!
Na última semana de Abril tinha consulta na minha obstetra para ela ver como eu tinha recuperado por dentro. E tal como já me tinham dito os medicos que me atenderam no dia que tinha a raspagem marcada, também ela referiu que o útero estava completamente limpinho. Perguntei-lhe se teria de voltar a esperar tantos meses ate engravidar novamente. Ela respondeu-me que não e disse-me que me ia receitar uns medicamentos que me iriam ajudar a engravidar mais rapidamente. Segundo ela com aquela medicação, no maximo em 2 ou 3 meses, deveria conseguir engravidar. As palavras dela deram-me esperança e saí da consulta com mais forças para recomeçar a minha luta! Só não sabia que em pouco tempo voltaria a perder todas as forças 😢
Em inicios de Junho a minha avó paterna sentiu uma indisposição, vomitou, chamou a minha mãe e disse que não se estava a sentir muito bem. A minha mae levou-a ao hospital convencida que teria sido algo que comeu que lhe fez mal... No hospital fizeram-lhe exames atrás de exames mas não descobriram nada. Só que a minha avó não parava de se queixar com dores, e por isso acabou por ficar internada... Os dias passavam e alem das dores de que se queixava havia dias em que ela delirava! No entanto os médicos não chegavam a nenhuma conclusão e não descobriam o que poderia ser ao certo. Sabíamos que ela em pequena teve uma utite mal curada e que por isso teve de fazer uma operação complicada ao ouvido e à cabeça, e desde aí começou a tomar medicação e nunca mais parou. Volta e meia tinha dores muito fortes na cabeça...
Com os anos ganhou diabetes, tensão alta, problemas no estômago... E a partir de uma dada altura ja tomava mais de 20 comprimidos diariamente...
Desde pequena que eu me fui habituando a ouvir as historias que ela me contava, e lembro-me perfeitamente dela me ter contado, por diversas vezes, que os medicos achavam que ela nao viveria muitos anos por causa da operação complicada que fez à cabeça. Mas a verdade é que viveu...
Vê-la internada tanto tempo, com tantas dores, sem que descobrissem o que pudesse ser, fez-me pensar que poderia ser o problema dela na cabeça a dar novos sinais e fui ficando cada vez mais preocupada...
Mal começou o mês de Julho os medicos falaram com os meus pais e explicaram que já nao podiam continuar a tê-la internada no hospital, mas que como ainda tinha dores, e momentos de delirios, iriam manda-la para um centro de recuperação e quando voltasse a ficar bem e sem dores ja nos deixariam leva-la novamente para casa. E assim foi... Por azar o unico centro com vagas era longe de Valpaços e por isso o meu pai e o irmão dele tinham de ir visita-la à vez, para ela ter sempre alguem ao fim de semana (já que durante a semana trabalhavam).
No penultimo fim de semana de Julho os meus pais foram-na visitar e ela estava tao bem que me ligaram para me meterem a falar com ela, pois bem sabiam que eu andava muito preocupada. Fiquei tao feliz nesse dia... Ela aparentemente parecia estar a recuperar. Falou muito bem comigo. Estava consciente, disse-me que ja nao tinha tantas dores e que ia ficar bem. Senti um alivio tao grande... Mas no final da nossa conversa os delirios voltaram! O meu pai tirou-lhe o telemóvel e disse-me que podia ser cansaço porque durante a tarde tinha estado a falar bem com eles.
No fim de semana seguinte foi a vez do meu tio a ir visitar. Foi lá no Domingo... Eu perguntava-lhes sempre como ela estava e nesse dia o meu tio tinha vindo de lá muito preocupado porque segundo ele, ela estava muito agitada, a gemer muito com dore e nao lhe conseguiu arrancar nenhuma palavra. Chamou uma enfermeira e a enfermeira apenas lhe disse que ela ja tinha estado agitada na noite de Sabado para Domingo e que ja lhe tinham dado calmantes e medicação para as dores. Fui ficando cada vez mais preocupada e pedi à minha mãe que me ligasse se houvesse novidades. Não demorou muito a ligar... Às 21h ligou a dizer que a minha avó tinha piorado e que lhe fizeram análises e se aperceberam que ela estava com uma infeção urinaria. Entretanto ja tinham chamado uma ambulância para a levarem ao hospital...
Imaginem o ridículo...Pedem-nos para a meter no centro de recuperação porque teria os cuidados necessários que não poderíamos dar-lhe em casa, e depois enchem-na de calmantes e de medicação para as dores, quando na verdade ela estava com uma enorme infeção urinaria. Isto é o que dá medicarem à sorte sem antes fazerem análises ou exames...
Deitei-me mas já não foi facil adormecer. Tinha-a no meu pensamento, fiquei a imagina-la com dores a gemer enquanto lhe davam a medicação errada. Tive pesadelos durante a noite...foi uma noite bastante agitada... De repente acordei com o telemovel a tocar. Acordei tão desnorteada que achei que era o despertador a tocar. Peguei no telemóvel e li "Mãe" no ecrã...Olhei rapido para o canto superior direito e apercebi-me que eram 6 da manha! O meu coração começou a bater forte como se quisesse saltar do peito e as lagrimas começaram a cair....Atendi a minha mãe a tremer e perguntei-lhe o que tinha acontecido. "A avó...já nao chegou viva ao hospital!"
Gritei tanto...só lhe respondi que era mentira! Nem ouvi mais o que ela me disse. O Hugo abraçou-me e fiquei a chorar no colo dele. E foi assim que partiu no dia 29 de Julho de 2018, sozinha numa ambulância (logo numa ambulância onde ela tanto detestava estar 😢) Doeu tanto mas tanto... Doeu mais do que as 3 perdas anteriores 😭
Ralhei tanto com Deus...perguntei-lhe se por acaso se tinha esquecido de mim! Em Março quase me tirou a minha avó materna, com um AVC. Em Abril levou-me o meu bebé e em Julho levou-me a minha avó paterna!
Sei que normalmente se tem mais afinidade com a avó materna, mas no meu caso era o oposto porque como ja vos disse eu cresci com a minha avó paterna. Durante 18 anos moramos debaixo do mesmo teto. Ela no andar de baixo e eu no andar de cima! Era uma segunda mãe...Partilhamos tanto uma com a outra ❤ Cortei-lhe muitas vezes o cabelo (ela adorava que fosse eu a fazê-lo)! Ajudei-a com o meu avô na fase da doença dele. Já depois do meu avô falecer dei-lhe muita força para ela continuar em frente. Dei-lhe um binesto que foi a maior alegria dela nos ultimos anos. Ela adoravo-o e ele adorava-a a ela. Estava sempre a saltar para o colo dela quando íamos aos meus pais, enchia-a de beijinhos e dizia-lhe "bivó gosto muito de ti".
Eu fui-me muito abaixo com a partida dela...Muito mesmo! Implorei tanto a Deus para que a trouxesse de volta...
Não foi facil seguir em frente depois deste golpe duro que a vida me deu. Quase dois anos depois ainda choro com saudades dela. Depois do funeral entrei no quarto dela para ir buscar as unicas duas coisas que quis para mim (depois eu mostro-vos), e nunca mais tive coragem de lá entrar. A porta está fechada. Não sei se a minha mãe já tirou as coisas dela lá de dentro, não sei se mudou alguma coisa de sítio...para ja não falo nisso, não faço perguntas e não entro lá. Ainda não há coragem...Talvez um dia 💔
Quanto ao Guilherme...Tinha 4 anos quando ela partiu. Viu todo o meu sofrimento e como é óbvio fez-me perguntas! Nunca lhe escondi nada... Disse-lhe que a bivó tinha o coraçãozinho muito doente e que por isso morreu! Morreu para o Jesus a vir buscar e a levar para o céu e para lhe dar um coração novo! Ao que ele me respondeu: "Mas se ja tem um coração novo ja pode voltar mamã porque ja está boa e eu tenho muitas muitas saudades dela". E la lhe expliquei que o novo coração só funciona no céu e disse-lhe que quando se vai para o céu já não se pode voltar mais!
Claro que ele também ficou muito triste e abalado com a partida dela, mas optei por lhe contar a verdade por forma a prepara-lo para a ausência dela. E para o ajudar a matar as saudades disse-lhe que ela no ceu ia andar sempre atras dele e que de noite ele a ia conseguir ver, que só tinha de procurar a estrela mais brilhante! Ainda nos dias de hoje, quase dois anos depois, ele a procura no céu. E diz a toda a gente "vês aquela estrela mais brilhante? É a bivó..." Ao início ia todas as noites à janela procura-la e chamava por mim para me mostrar. E lá engolia eu em seco para não chorar à frente dele. Falava muitas vezes para o céu como se estivesse a falar com ela. Ensinei-lhe a rezar o anjo da guarda pela bivó e durante alguns meses fazia-o todos os dias. Por vezes mais que uma vez por dia! E ainda me perguntava se eu também ja tinha rezado pela bivó. Com apenas 4 anos ouvimos da boca dele muitas vezes cá por casa "Anjo da guarda minha companhia, guarda a bivó de noite e de dia ❤".
Hoje em dia já não o ouço rezar tantas vezes. Anda mais preguiçoso, mas dela não se esquece... Isso nunca! Continua a procura-la no ceu e a manda-lhe beijinhos e fala com ela ❤! Diz-me muitas vezes: "mamã tenho tantas saudades da bivó!" E eu respondo-lhe que também tenho e abraço-o! Pensei que com o tempo se esqueceria dela, mas nao esquece! E isso deixa-me feliz...enquanto puder vou manter a memória dela viva, dentro dele ❤
Um dia fui comprar flores e ele perguntou-me para quem eram. Sem pensar disse-lhe que eram para a bivó. E diz-me ele muito admirado "a sério que compras-te flores para a bivó mãe? Ela está no céu, nunca mais a vamos ver, nao lhe vais conseguir dar as flores!" Tive de pensar numa resposta rápida que não o assustasse muito e fosse um pouco de encontro à realidade. Entao disse-lhe que existe um sitio onde estao as portinhas do céu e que quando alguém morre se leva a pessoa até essa portinha e que depois o Jesus a vai lá buscar. "E depois quando a portinha abre tem escadas para o céu mamã?" - perguntou ele. Respondi-lhe que sim... Nao imaginam as vezes que me pediu para ir ver a portinha do céu da bivó. Mas eu nao o queria levar! Foi pedir aos meus pais. Lá veio o meu pai falar comigo e decidimos leva-lo ao cemitério num dia calmo que nao tivesse la muita gente. Lá foi ele todo contente com as flores e a vela para a bivó. Falou para a foto dela, olhou para tudo com a maior naturalidade do mundo e a partir desse dia nao fez mais perguntas nem voltou a pedir para la ir!
O Guilherme desde pequenino que é uma criança muito curiosa. Sempre fez muitas perguntas e se na cabeça dele a nossa resposta nao clarifica a sua ideia, continua a insistir na pergunta! Desta forma, acabei sempre por falar abertamente de tudo com ele, fui-lhe explicando as coisas com verdades mas sempre de uma forma mais soft. Por isso, não ia fazer de forma diferente com o tema "morte". Sinto que lhe expliquei da melhor forma e da forma menos assustadora porque a verdade é que até à idade adulta eu sempre tive muito medo de cemitérios, e ele por exemplo olha para eles como algo natural!
Continua
Comentários
Enviar um comentário