Quando a minha avó partiu, levou com ela parte de mim... Perdi a vontade de viver...Acordava e adormecia a chorar e a pensar nela. Não queria ver ninguém, só queria estar sozinha no meu canto com os meus pensamentos. Decidi nao continuar o tratamento. Já nao queria mais engravidar, só queria ter a minha avó de volta.
As semanas passaram e tive de começar a dar a volta às coisas principalmente porque tinha o Gui que precisava de mim. O Gui que desde os 3 anos me pedia um mano e que de repente começou a pedir cada vez mais, como se de um sinal se tratasse. O Gui que disse por varias vezes que ja que eu nao lhe dava o mano ia pedi-lo ao Pai Natal.
Foi nele que fui buscar forças e foi por ele que decidi recomeçar os tratamentos. Talvez se engravidasse voltasse a encontrar a luz na minha vida...
Dia 2 de Dezembro (2018) fui a Perlim, em Santa Maria da Feira, com o Gui. O Hugo tinha ficado em viana a trabalhar e eu aventurei-me sozinha com o pequeno. Todos os anos o Gui vibra com a magia do Natal em Perlim...Embora nesse ano eu nao estivesse com vontade de festejar o Natal, a verdade é que nao queria privar o meu filhote disso, e por ele, eu fazia todos os esforços para seguir em frente. E foi nesse dia 2 que me aconteceu uma coisa muito estranha. Não me conseguia concentrar nos teatros que estavamos a ver porque comecei a sentir o cheiro do pão com chouriço e só me apetecia ir atras da barraquinha comprar pao com chouriço para comer. Nao achei aquilo nada normal, parecia que estava louca...eu com desejos? Eu nunca tive desejos... De repente coloquei a mão na barriga e pensei: "não...não pode ser!"
No dia seguinte acordei e fui buscar um teste de gravidez que tinha guardado. Olhei para ele aflitinha para fazer xixi... Tive medo de fazer o teste...naquele momento nao sabia se queria ver um positivo ou um negativo.
Fiz o teste, olhei a medo e lá estava ele...o tao esperado POSITIVO! Senti um misto de emoções...quis tanto aquele momento e nao conseguia sentir-me totalmente feliz porque continuava de luto. Foi um sentimento antagónico...
Liguei logo para o consultório da minha obstetra e consegui uma consulta para o dia 5. Queria ter a certeza que estava tudo bem.
No dia da consulta quando a doutora começou a fazer a ecografia ouvi dela um: "não acredito nisto".
Fiquei em choque....O meu primeiro pensamento foi logo "mas que foi desta vez?". Questionei a doutora se estava tudo bem com o bebé, ao que ela me respondeu: "Com o bebé para ja está tudo bem Aninha, mas está com um quisto de 5cm no ovário direito."
Perguntei-lhe se isso me poderia trazer problemas e a doutora explicou-me que existiam 3 hipóteses: O quisto poderia diminuir e desaparecer por completo, com o tempo; O quisto poderia aumentar de tamanho e acabar por rebentar e ser expulso de forma natural. Ou o quisto poderia crescer, causar dores e eu ter de operar para tirar!
"E o bebé doutora?" - perguntei-lhe.
"O bebé poderá ou nao sobreviver. Tudo vai depender de como as coisas correrem daqui para a frente. Mas não quero que se apegue muito ao bebé...Quero que siga a sua vida normalmente sem pensar muito neste assunto e vemo-nos daqui a 2 semanas!"
Saí do consultório entrei no carro e chorei. Nao queria acreditar que ia perder mais um bebé...Nao era justo! Chorei tudo o que havia para chorar. Limpei as lagrimas e decidi ir à luta. Era impensavel para mim passar por mais uma perda. Falei muito com Deus durante as duas semanas de espera...e pedi muito à minha avó para olhar pelo bebé. Ao fim das duas semanas, no dia 19, fui à consulta. A doutora começou a ecografia em silêncio. Eu estava com muito medo e nao demorei muito ate lhe perguntar se estava tudo bem. "Sim está...o quisto diminui, só já está com 3cm. E o bebé está optimo. Vamos ouvir o coraçãozinho dele?" - perguntou-me ela. Respirei de alivio e senti-me feliz, como ja não me sentia ha ja alguns meses. E respondi-lhe que sim em relação ao ouvir o coração. E quando ouvi aquele coraçãozinho bater apaixonei-me logo ❤ Naquele dia prometi a mim mesma que iria cuidar de mim e dele para que a gravidez corresse bem ate ao fim.
Nao houve enjoos nem vomitos. Às 14 semanas o quisto já tinha desaparecido por completo. Aos 5 meses montei sozinha o quartinho dele (o famoso quarto amarelo e cinza que ja vos mostrei).
Às 27 semanas comecei com dores no fundo da barriga mas desvalorizei. Às 28 semanas as dores ja surgiam várias vezes ao dia. Fui às urgencias e a obstetra que me atendeu disse que estava com contrações e que corria o risco de parto prematuro, pelo que, e devido a todo o meu quadro clínico, o melhor seria entrar de baixa e ficar em casa, em repouso total, para tentar que o bebé nao nascesse antes das 37 semanas, pelo menos.
Continua...
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