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Never in my arms, always in my heart - 06.04.2018 ⭐

Este é o capítulo mais doloroso da minha história 😢 Aquele que ando a adiar escrever, por ser o que mais me custa falar ainda. Vão haver amigos e familiares que ao ler isto vão ficar surpreendidos porque fiz questão de esconder de toda a gente o que aconteceu 💔 Só mesmo aquela família mesmo próxima é que soube porque desses era impossível esconder...
O Guilherme está com 6 anos (e essa é a diferença de idade entre ele e o Afonso). Mas mal o Guilherme fez 3 anos decidi começar a tentar engravidar do segundo, pois sabia que não ia conseguir engravidar logo no primeiro mês e eu não queria que eles tivessem uma diferença de idades muito grande. 
Comecei então a tentar engravidar em Maio de 2017. Dia 27 de Fevereiro de 2018, no dia em que fiz 31 anos, fiz um teste de gravidez e o teste deu positivo. Não imaginam a minha alegria...foi a melhor prenda de aniversário de sempre, fiquei eufórica ❤ Marquei logo consulta na médica de família e aproveitei que tinha o seguro de saúde do trabalho, para procurar uma obstetra pois decidi que preferia ser acompanhada também por uma obstetra. Fiz uma ecografia na segunda semana de Março, para datar a gravidez e descobri que já estava com 5 semanas. Na semana seguinte, às 6 semanas, fiz a primeira consulta com a obstetra. Estava tudo a correr bem comigo e com o bebé. Entretanto a minha avó materna teve um AVC e foi internada. Nessa altura caiu-me tudo...pensei mesmo no pior mas tentei manter a calma por causa do bebé. No dia que fiz 8 semanas de gravidez fui à consulta de obstetrícia. Estava a correr tudo muito bem, o bebé estava a crescer bem e ouvi pela primeira vez o som do coração dele ❤
Dia 30 de Março (sexta-feira santa) fui para Valpaços para passar a Páscoa com os meus pais. Não fui para festejos porque tinha a minha avó internada, por isso nesse ano não íamos festejar nada, fui com o intuito de a ir ver ao hospital. Quando a fui visitar fiquei triste com o que vi. A minha avó não falava e estava muito em baixo, eu própria não esperava vê-la assim, mas tentei ser forte por mim e pelo bebé e quis sempre acreditar que ela teria um final feliz, algo me dizia que ainda não tinha chegado a hora de nos deixar...
Segunda-feira voltei para Viana e terça retomei o meu trabalho. A semana correu dentro da normalidade, não tive dores nem notei nada de diferente... Sexta-feira, dia 06 de Abril, durante a manhã, fui à casa de banho no local de trabalho e ao limpar-me reparei que tinha um pouco de sangue clarinho do papel. Fiquei logo em alerta, por causa do que já me tinha acontecido na primeira gravidez. Como não sou daquelas de ir a correr para o hospital (vou sempre na última) decidi ligar para a Saúde 24. Quem falou comigo disse-me que se o sangue era clarinho não havia problema nenhum, que só convinha vigiar. No então no final da manhã continuava a perder esse sangue clarinho e resolvi que seria melhor ir às urgências e verificar se estava mesmo tudo OK.
A obstetra que me atendeu observou-me por baixo e disse que estava tudo Ok e que só teria de fazer a ecografia para ter certezas absolutas. Lembro-me como se fosse hoje...ela começou a fazer a Eco e não demorou muito a começar às pancadinhas na minha barriga ao mesmo tempo que dizia "bora...anda lá...mexe-te". Perguntou-me novamente de quanto tempo estava e se tinha mesmo a certeza, ao que respondi afirmamente. Tentou ouvir o coração e não conseguia. Ela não dizia nada e as lágrimas já me corriam pelo rosto. Até que depois de tantas tentativas ela me diz: "Vamos até outra sala porque este ecógrafo não está muito bom." 
Atravessei um corredor com ela, enquanto ela procurava uma sala livre. Quando finalmente encontrou uma e começou a fazer a ecografia eu vi logo na expressão dela que não estava tudo bem... Só me disse: "Lamento imenso!" 
Chorei tanto naquele momento...parecia um pesadelo. Depois de 9 meses a tentar engravidar naquele momento carregava um bebé morto dentro de mim. Como se lida com uma coisa destas? 
Fomos novamente até ao consultório dela e ela explicou-me que o bebé estava morto e que não havia nada a fazer. Perguntei-lhe: "E agora?" 
" Agora tem duas hipóteses. Ou deixa o seu corpo agir sozinho e expulsa-lo por ele, ou faz o tratamento para o expulsar já". - respondeu-me ela.
Perguntei-lhe o que faria no meu lugar porque eu estava completamente perdida, na minha cabeça ele estava vivo e se fizesse o tratamento sentia-me como se estivesse a fazer um aborto. Ela respondeu-me que no meu lugar deixaria a mãe natureza encarregar-se de o expulsar de forma natural. Como era sexta feira perguntei-lhe se na segunda podia regressar normalmente ao trabalho e ela respondeu-me que sim...que podia seguir com a minha vida naturalmente. Saí do hospital e liguei logo ao meu marido a dar a noticia...queria sair do trabalho para ir a voar ter comigo, mas não deixei. De seguida liguei à minha mãe que chorou comigo do outro lado do telefone.
Fui buscar o Guilherme aos tempos livres e fomos para casa. Confesso que nem me lembro do caminho que fiz nesse dia. Estava completamente transtornada e só chorava...acho que foi um anjo que me acompanhou até casa. 
Já em casa liguei à tia Ana...Como já vos disse é a que melhor me compreende nestas fases, por tudo o que também passou nas gravidezes dela. Somos parecidas em muitas coisas, já sofremos os mesmo desgostos, por isso nos compreendemos tão bem...
Esse fim de semana foi um pesadelo. Eu acordava e adormecia a chorar com a ideia que tinha um bebé morto na minha barriga. Não conseguia seguir em frente. Na sexta feira tinha ligado ao chefe a dar a noticia, até porque tinha ido ao hospital durante a hora do trabalho e ele pediu-me logo para depois lhe dizer alguma coisa. Mal lhe dei a noticia ele disse-me logo que não me queria lá segunda mas eu disse que ia. Eu detesto faltar ao trabalho. Até doente vou trabalhar...já trabalhei com 38,5º de febre e com gastroenterites. Como ele já me conhecia durante o fim de semana mandou-me mensagem a perguntar como estava e disse-me novamente que não me queria lá na segunda. Mas eu respondi que iria trabalhar. No entanto segunda de manhã estava de rastros. Parecia que não tinha forças para nada. A doutora mandou-me seguir com a minha vida naturalmente, mas era impossível. Como poderia ir para o trabalho com um bebé morto dentro de mim? Era impossível...Deixei o meu marido ir trabalhar e fui sozinha com o Guilherme ao centro de saúde ver se apanhava a medica de família. Mas a minha medica de família nesse dia não trabalhou, fui atendida por outra medica, que me mandou ir ao hospital e dar entrada nas urgências para ser vista em obstetrícia. Por sorte, ao chegar ao hospital e ao entrar no consultório, reparei que a medica que estava de urgência era a minha obstetra.
"Está tudo bem com o bebé Aninha?" - perguntou-me ela.
"Já não há nenhum bebé Doutora"- respondi-lhe com lágrimas nos olhos.
E contei.lhe que sexta feira tinha descoberto que o bebé estava morto na minha barriga.
"Então e que precisas agora Aninhas? Queres que te encaminhe para psicologia para seres acompanhada e recuperares mais rápido psicologicamente?" - perguntou ela.
"Não doutora...para começar preciso de uma baixa porque não consigo ir trabalhar com um bebé morto na barriga." - respondi.lhe.
"Bebé morto? Como assim? Mas a colega que a atendeu não lhe pôs a medicação para o tirar?" - perguntou-me.
Respondi-lhe que não. E expliquei.lhe que tinha perguntado à médica o que ela faria no meu lugar e que ela disse que deixaria o corpo expulsa-lo de forma natural. E que quando lhe perguntei se poderia ir trabalhar que ela disse que sim e que deveria seguir a minha vida naturalmente.
"Como pode seguirem frente com o bebé morto na sua barriga? E como pode ir trabalhar normalmente nesse estado? Nem pensar Aninha...vamos já tratar de lhe dar a medicação para a ajudar na expulsão e vou mete-la de baixa pois vai precisar recuperar fisicamente e psicologicamente." - disse a obstetra. "Prefere ser internada e fazer aqui o tratamento ou prefere colocar aqui a medicação e ir para casa e fazer a expulsão em casa?" - acrescentou ela.
Respondi que queria ir para casa porque não tinha onde deixar o Guilherme e queria estar perto dele.
Meteu-me então os comprimidos pela vagina acima, e pediu-me para ir de imediato para casa para não correr o risco deles saírem. Chegando a casa teria de me deitar logo e aguardar a medicação fazer efeito. Assim foi...e foi horrível. Não demorou muito ate as contracções começaram a fazer efeito. As dores eram horríveis...pareciam mesmo as dores do parto. Sofri muito durante toda a tarde, mesmo com a medicação que tinha de tomar para as dores. Terça as dores continuavam embora não fossem tão fortes como no dia anterior. Quarta de manha tinha consulta marcada para ver se o tratamento tinha resultado, mas eu não era burra e sabia bem que não tinha visto nada a sair. Sabia que ele ainda estava la...
Enquanto aguardava na sala das urgência, veio o médico cá fora chamar por mim. E que médico que tinha logo de me calhar naquele dia? Adivinhem... O medico que acompanhou a minha primeira gravidez e que em todas as consultas fazia o favor de me dizer que estava gorda e estava a engordar muito. Respirei fundo e segui-o até ao consultório. Tive de lhe contar o que tinha acontecido e ele mandou deitar-me para me observar. Quando  fez a eco para ver se o bebé já tinha saído virou o ecografo para mim e disse-me com um ar arrogante: "vê...não saiu nada! O bebé continua aqui. Vou voltar a colocar-lhe os comprimidos e vou marcar a raspagem para sexta feira, porque não acredito que isso vai la com comprimidos..."
Foi horrível...aquela imagem do bebé morto não me sai da cabeça ainda hoje! 
Entretanto mandou-me vestir e quando já estava vestida disse-me de forma arrogante: "Não se vista nada...até me esqueci...então não sabe que tenho de lhe meter novamente os comprimidos? E depois de lhe meter os comprimidos veja lá se não vai passear para o shopping...é para ir logo para casa!"
Sim claro...com todo aquele sofrimento o que mais queria naquele momento era ir passear para o shopping, sem duvida! Fico parva com a forma humilhante com que há médicos a atender-nos. Principalmente numa fase assim tao delicada. Ate a minha cadela é melhor tratada nas consultas com a veterinária...
Saí do hospital e fui para casa. Pelo caminho começaram as dores. Eram ainda piores que da primeira vez. Chegada a casa deitei-me logo no sofá... As dores tornaram-se cada vez mais difíceis de suportar. E comecei a sentir as contracções. Não sentia nada a sair, tirando o sangue que já estava a perder desde segunda. Então parei para pensar e lembrei-me que deitada de pernas fechadas talvez não resultasse. Se num parto tem de se estar de pernas abertas a puxar, talvez naquela situação tivesse de fazer o mesmo. Peguei num cesto de verga alto que tinha no quarto do Gui e fui para a casa de banho. Sentei-me na sanita com as pernas flectidas em cima do cesto virado ao contrario. Abri as pernas e comecei a puxar e a fazer força, como se de um parto se tratasse. Puxei, puxei... e de repente senti algo a sair de dentro de mim e a bater no fundo da sanita. Foi horrível...gritei, chorei...o meu marido veio ter comigo e agarrou-se a mim com as lágrimas nos olhos. Apercebeu-se que tinha sido o fim de tudo. Pedi-lhe que desejasse ele o autoclismo porque eu não tinha coragem. E fui para o sofá chorar o resto... Nesse momento senti um vazio enorme dentro de mim. Não dá para explicar...só quem passa por um aborto retido, sabe o que isto é... Foi o pior dia da minha vida! 😭💔
Eu tinha a certeza que tinha conseguido expulsar o bebé,  mas mesmo assim sexta feira tinha consulta marcada para verificar se não fazia falta ir ao bloco fazer raspagem. Até porque podia ter ficado lá alguma coisa...
Sexta fui à consulta em jejum e com medo que não tivesse saído tudo. Apanhei uma medica novinha e um doutor com alguma idade, mas ambos com uma simpática e uma atenção fenomenal. Fiquei nervosa na hora na ecografia, mas a doutora descansou-me logo. Disse-me que o útero tinha ficado completamente limpinho...mais limpinho do que o de algumas mulheres que estavam a tentar engravidar, e que por isso podia voltar aos treinos quando quisesse e me sentisse preparada, até porque havia ainda a parte psicológica para recuperar. A nível físico foram quase 3 semanas a perder sangue. A nível psicológico foram mais algumas...

Continua... 

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