Ainda não vos contei, mas quando estava grávida de quase 4 meses do Afonso, no dia do meu aniversário (27 de Fevereiro), a minha mãe ligou-me a dar os Parabéns. Conheço a minha mae melhor do que ninguém... Mesmo a tantos quilómetros de distância devo ser das pessoas com quem mais fala. Ligou-lhe quase todos os dias e por vezes estamos mais de uma hora ao telemóvel. A minha mãe é a minha melhor amiga, é a confidente, a conselheira...Nao imagino a minha vida sem ela!
Mas nesse dia ela estava estranha. Muito estranha mesmo... Parecia que estava a falar comigo como se estive deitada. E sendo final da manhã nao era muito normal porque a minha mae desde que acorda às 6 e tal da manha, não pára mais o dia todo. Fiquei logo preocupada e perguntei-lhe o que tinha, mas ela respondeu-me nada. Disse-lhe para não me mentir porque já me tinha apercebido na voz dela que algo se passava e que era capaz de jurar que estava a falar comigo deitada. Ela "mentia-me" do lado de lá e eu insistia do lado de cá. Até que a minha teimosia venceu e ela me confidenciou que estava internada.
"Internada??? Como assim internada? Que tens mãe?" - perguntei-lhe.
"Não te preocupes que estou bem...Andava a sentir-me muito cansada e ontem à tarde fui ao centro de saúde. O medico observou-me e disse que estava tudo bem e mandou-me para casa! Mas o teu pai insistiu que não era normal tanto cansaço e trouxe-me para Chaves, para o hospital. Depois do medico me observar e me fazer exames descobriu que tenho uma pneumonia e internou-me!" - respondeu-me ela.
"Como assim pneumonia mae? Tu nem constipada estavas. Como podes ter uma pneumonia! E porque nao me ligaste logo ontem a dar a noticia?" - perguntei eu.
"Para nao te preocupar por causa do bebé. Eu estou bem e nao te quero preocupada, pensa no bebé! Por isso é que nao queria que soubesses..." - respondeu-me ela.
Como podia nao ficar preocupada com a minha mae internada com uma pneumonia? Quando nem sintomas teve... Só fiquei descansada quando ela teve alta!
Só que uns tempos depois de ter tido alta começou a fazer exames. Segundo ela exames para ver se tinha recuperado por completo da pneumonia.
Lembro-me que pouco tempo antes do Afonso nascer ela falou comigo e disse-me que um exame tinha acusado liquido no pulmao, resultante da pneumonia, e que iria fazer outro exame para confirmar se tinha de ser ou nao operada. Fiquei logo preocupada... Entretanto nasce o Afonso e mal tive alta do hospital ela veio passar comigo uma semana. Logo aí estranhei porque o meu pai estava muito preocupado com ela e pediu-me para nao a deixar fazer esforços e para nao a deixar apanhar frio, mas pensei que fosse algo que tivesse a ver com o facto de ter tido a pneumonia... Respondi-lhe para nao se preocupar. No fundo eu nao queria a minha mae para me ajudar, eu aproveitei que ela se ofereceu para vir para ca, para a ter uma semana em minha casa comigo. Os meus pais nunca vêm cá e pelo menos no nascimento dos meus filhos consegui tê-la comigo uma semana. Foi uma forma de passarmos tempo juntas. Porque tanto de um como do outro, quando fui para o hospital para os ter, deixei a casa arrumada e limpa, e a roupa toda lavada e passada. E sabem o que fiz depois de ter alta deste último parto? Mal cheguei a casa fui aspirar a casa e regar a relva 😂
Mas voltando à minha mãe...Depois dessa semana que passou cá voltou a Valpaços. Tinha de ir fazer o tal exame que faltava para ver se fazia falta ser operada ou nao, mas entretando ligaram a desmarcar o exame porque a maquina tinha avariado. Quando ela me ligou a dar a novidade eu perguntei-lhe porque nao lhe marcaram o exame para outro lado. Ela respondeu-me que lhe tinham dito que nao haviam mais maquinas no Norte, que a máquina mais perto estava em Coimbra e que lhe tinham dito que a medica lhe ligaria para lhe tentar encontrar uma solução o quanto antes. Fiquei sem perceber que raio de exame era que só existia uma maquina no norte para o fazer.
Um dia em conversa como meu irmao (que tinha ido de férias a Valpaços), ele confidenciou-me que tinha estado a puxar pelo meu pai e que o meu pai se tinha descaído e dessa conversa o meu irmao tinha-se apercebido que a coisa parecia mais grave do que uma pneumonia. Eu disse-lhe que devia ser impressao dele porque quando apanhei a mae em minha casa perguntei-lhe várias vezes se nao era nada mais grave e ela sempre me disse que nao. Só que ele parecia ter a certeza do que estava a dizer e quando eu lhe perguntei se ele me estava a tentar dizer que ela tinha o que eu achava que ela tinha, ele com voz tremula respondeu-me que sim e eu comecei a chorar e disse-lhe que nao queria acreditar e que precisavamos contactar a médica. Eu sabia que a minha mae tinha o contacto dela e incumbi o meu irmão de lhe tentar "roubar o contacto". Assim que o meu irmão conseguiu o numero e o nome da medica, liguei com ela. Atendeu-me um senhor e eu disse-lhe que precisava falar com a doutora porque tinham adiado um exame à minha mae por a maquina se encontrar avariada, e que ela esperava um telefonema da medica com uma solução, mas que a doutora nao lhe tinha ligado. Ele respondeu-me que a nova data para o exame seria marcada com os do transporte que iriam levar a minha mae e que depois ela seria avisada. Eu disse-lhe que à minha mae lhe tinham dito que seria a medica a ligar porque o exame em questao era urgente pois ia decidir se ela tinha de ser ou nao operada, e disse-lhe o nome do exame. Mal lhe disse o nome do exame ele só me respondeu: "Um momento." E passou a chamada... Logo aí comecei a tremer e a pensar no pior...
Do outro lado da linha atende-me uma medica com uma voz doce. Disse-lhe quem era e ela disse que sabia bem quem era a minha mae. Disse-lhe que tinham adiado o exame da minha mae por a maquina se encontrar avariada e que a avisaram que a doutora lhe ligaria com urgencia com uma solução, só que ate ao momento ninguem tinha contactado a minha mae. Ao que ela me respondeu: "O que? Como assim a maquina avariou? A mim ninguem me contactou a avisar da avaria. A sua mae tem de fazer esse exame o quanto antes e se você nao me ligasse eu nao saberia o que se está a passar. Eu achava que ela ja o tinha ido fazer. Obrigada por me avisar. Eu vou tentar resolver e depois ligo com a sua mãe." Nesse instante parece que ate fiquei sem saliva. Ganhei coragem e disse à médica: "Doutora...eu nao faço a minima ideia do que se passa aqui. A minha mae disse-me que ficou com liquido no pulmao por causa da pneumonia e que talvez tivesse de ser operada. Mas eu nao sou burra... Eu noto nas atitudes e na preocupação do meu pai que algo se passa. Tenho 32 anos e embora por vezes eles pensem que sou uma criança e que por isso me conseguem enganar, a verdade é que nao é bem assim. Sou adulta e tenho o direito de saber o que se passa com a minha mae. E por isso peço-lhe que nao me minta doutora...por favor conte-me a verdade!"
"Ok...tenha calma...Eu vou.lhe contar a verdade mas tente manter a calma! A sua mãe tem um tumor no pulmão." - respondeu-me ela.
Caí de joelhos no chao com o meu bebé no colo e comecei a chorar e a gritar "nao pode ser!". O Hugo tirou-me logo o bebé do colo e ficou incrédulo a olhar para mim porque percebeu que era grave. Do outro lado tive o apoio da doutora que me foi dando forças e me disse: "Tenha calma...eu sei que teve agora um bebé e foi por isso que os seus pais tomaram a decisao de nao lhe contar. Descobrimos o tumor quando você ainda estava gravida e eu sei que anteriormente ja teve um aborto. Os seus pais quiseram poupa-la porque seria um choque para si descobrir uma coisa destas durante a gravidez. Mas esteja calma porque vai tudo correr bem!"
"Doutora nao me minta por favor...o que vai acontecer daqui para a frente? E porque é que este exame é tao importante?" - perguntei-lhe.
"Dos exames realizados até agora ja deu para ver que o tumor é de grau I. Este exame que faz falta e que ela ia fazer ao IPO, era para vermos se o tumor só está mesmo alojado no pulmao ou se ja espalhou para fora. Por isso é que dependemos deste exame para sabermos se ela pode ou nao ser operada. Temos de ter a certeza que ainda nao espalhou" - respondeu-me ela!
Nesse instante caiu-me tudo... O meu corpo tremia e parecia que tinha o coração a sair-me pela boca.
Antes de desligar a chamada lembro-me de implorar à doutora que tratasse da minha mae e que tentasse arranjar uma forma dela fazer o tal exame o quanto antes. Ela respondeu-me: "Não se preocupe que eu prometo-lhe que vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que ela faça o exame o quanto antes, e para que ela fique bem. Tenha fé...vai correr tudo bem!"
Depois de desligar a chamada fui para o quarto e chorei, chorei, chorei... Ninguém merece... O Afonso tinha duas semanas de vida. Eu tinha passado por um parto ha duas semanas... Eu ainda estava muito sensível, o Afonso ainda se estava a adaptar ao mundo, e esperava-me uma dura batalha da minha mãe. Parecia um pesadelo. Olhei para cima e perguntei-lhe ☝️ se por acaso nao se tinha esquecido de mim. Perguntei-lhe que mal eu tinha feito para me ter levado o meu bebé, a minha avó, e agora estar a mexer com a minha mãe! Nesse dia revoltei-me a sério... Mais uma vez foi para a tia Ana que liguei a desabafar... Durante as minhas desconfianças, quando as partilhava com ela, ela respondia-me para nao ser tolinha porque nao era nada. Dizia-me que tinha um sexto sentido que nunca a deixava ficar mal e que esse sexto sentido lhe dizia que nao era nada de mal. Nesse dia liguei-lhe a dizer que o sexto sentido dela estava errado pela primeira vez. E contei-lhe... Acho que choramos juntas ao telemovel. Ela que tenta sempre disfarçar e dar-me forças, acho que nesse dia foi apanhada mesmo desprevenida. Nao estava à espera de ouvir o que lhe contei. Por isso nao conseguiu dizer muita coisa nesse dia. Até porque era a irmã dela e eu bem notei como ficou preocupada. Durante uns meses fomos o apoio uma da outra ❤
No dia que liguei à doutora o meu irmão avisou-me que a doutora ligou à minha mae e lhe contou que eu lhe tinha ligado e que ja sabia de tudo (tinha pedido à doutora que nao contasse nada à minha mae, mas se calhar ela nao ouviu e fez exatamente o oposto). Durante uns dois dias a minha mae nao me ligou... Ao terceiro dia quando me ligou nao toquei no assunto, e ela tambem nao disse nada. Eu agi como se nada tivesse acontecido...
Duas semanas depois fui ate Valpaços passar uns dias com ela. Dessa vez o Hugo foi comigo porque tinha ferias, mas a partir daí, e como eu estava de licença de maternidade, comecei a ir sozinha com os meninos uma semana por mês. Fui uma semana em Setembro, uma em Outubro e outra em Novembro. Fiz sempre a viagem de 2horas e meia para la e 2horas e meia para cá, sozinha com os meninos no banco de tras. Fiz viagens debaixo de muita chuva e de muito nevoeiro. Fiz viagens depois de noites mal dormidas. Eu sabia que nessa semana, durante esses meses, com a companhia dos meninos ela esquecia tudo! Dei-lhe todo o apoio que me foi possível e rezei muito por ela. Fiz promessas que entretanto cumpri (mas ainda me falta cumprir uma).
Ja nao sei bem precisar mas penso que o exame que lhe faltava fazer ela fez em finais de Setembro/ inicios de Outubro. Andei muito nervosa ate sair o resultado. Mas graças a Deus o tumor ainda nao tinha espalhado, só estava alojado numa parte do pulmao. Quando ela foi à consulta a doutora disse-lhe que ia avançar com a marcação da operação. Ligaram-lhe em finais de Novembro a dizer que tinha de se apresentar na segunda-feira, no hospital em Vila Nova de Gaia, para ser operada. Confesso que nunca tinha visto a minha mae com medo, mas nesse dia eu vi o medo espelhado no olhar dela. Ainda bem que lhe ligaram comigo lá...Assim pude dar-lhe força e passar-lhe pensamentos positivos. Animei-a o dia todo e quando à noite fui para a cama descambei por completo. Nunca tinha sentido tanto medo na minha vida, como naqueles ultimos meses. E imagina-la a ir ao bloco para tirar parte do pulmao deixava-me pior!
A minha mae foi operada dia 3 de Dezembro de 2019. Eu queria estar la ao lado dela, mas o meu pai nao me deixou. Disse-me para ficar com os meninos e para depois a ir ver no dia seguinte. Fiz-lhe prometer que me ligava a dar novidades!
A operação foi demorada. O meu pai ligou-me ja passava das 13h...Quando me disse que ela ja tinha saído do bloco e tinha corrido tudo bem, senti um enorme alívio dentro de mim. Liguei logo ao Hugo e pedi-lhe para que metesse o dia seguinte para férias, para ficar com os miudos. E no dia seguinte la arranquei para Gaia, para a ver ❤
Custou-me vê-la como a vi... Parecia tristinha... Pouco falava, custava-lhe muito mexer-se...mas o que mais confusao me fez foi o dreno ligado diretamente ao pulmao para lhe tirar porcaria.
Os medicos nao sabiam o tempo que ela ficaria internada. Tudo dependeria da recuperação dela. A senhora que estava na cama ao lado tinha sido operada ao mesmo e ja estava internada la ha um mês. Isso desmotivou um pouco a minha mae, mas eu disse-lhe logo que cada caso é um caso...E foi! Ela só ficou internada uma semana. A recuperação dela foi muito boa. Mas para isso contou muito a força de vontade dela. Todos os dias ela dava o melhor dela a fazer os exercicios todos que os médicos lhe propuseram. Toda a força de vontade ajudou-a a livrar-se rapido do dreno e a poder ter alta num curto espaço de tempo.
Uma semana depois dela ter alta o Hugo entrou de férias e fomos duas semanas para Valpaços. A minha mãe dependia de terceiros para tudo. Ate para banhos e para se deitar e levantar. Sozinha nao conseguia. Entao alem de tratar dos meninos, tratei da casa e em conjunto com o meu pai, tratavamos dela e das refeições. Foram duas semanas cansativas mas tudo valia a pena para a vermos bem. Dia 27 de Dezembro ela tinha consulta para ir saber o resultado da analise ao tumor. Eu queria ir com ela mas mais uma vez o meu pai nao deixou. Se voces me perguntarem se o tumor era benigno ou maligno nao vos sei dizer porque os meus pais nunca me responderam diretamente. A minha mae só me disse que tinha ficado tudo limpinho e que por isso nao fazia falta fazer mais nada (quimioterapia ou radioterapia). Eu questionei se o tumor era benigno e ela "nao te preocupes que está tudo bem. Desapareceu tudo". E eu voltei a questionar: "Ok mae...mas era benigno?"
Aí o meu pai interviu: "oooohhh...nao ouviste? Está tudo bem, é o que importa!"
E assim fugiram à minha pergunta...
Será que a partir daqui teria finalmente sossego na minha vida?
Continua...
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